sexta-feira, 16 de março de 2012

BRASIL ENTRE AS 100 MELHORES UNIVERSIDADES DO MUNDO

Sinceramente, não sei se choro por somente termos uma (USP) ou se fico feliz por, pelo menos, termos uma Universidade na lista das TOP 100 do Mundo (Top Universities by Reputation 2012).

A pesquisa, realizada pela Thomson Reuters, solicitou a 31 mil pesquisadores (de 149 países) que identificassem quais seriam as universidades com maior relevância no ensino e na pesquisa em seu campo de atuação (ver resultado no link). No resultado a USP aparece entre as posições 61-70 (de 100). Se valer como consolo, o Brasil é o único país da América do Sul e Central e de língua portuguesa a aparecer no ranking.

Contudo, para uma Nação que buscar ser uma grande potencia mundial, ter apenas uma Universidade no ranking (esqueçamos as questões políticas que podem envolver a escolha) é muito pouco, pois uma educação de qualidade se constrói com docentes e pesquisadores formados por docentes e pesquisadores de excelência que ministrem cursos de excelência em Universidades de excelência.

Investimentos nas áreas de ensino, ciência e tecnologia e em pesquisa não podem “sofrer” cortes ou contingência (nome mais bonitinho para o corte), ao contrário, saúde, educação e pesquisa deveriam ter prioridade na execução do orçamento, pois a cada ano estamos perdendo milhares de potenciais Prêmios Nobel para o ostracismo, no sentido de isolamento, do mundo acadêmico.

Anderson Boanafina
Rio, 15/03/2012

terça-feira, 13 de março de 2012

FORMAÇÃO PROFISSIONAL: MODISMO OU POLÍTICA

A LDB de 1996 trouxe, para a educação profissional, diversas mudanças que, nem sempre, foram recebidas por especialistas como sendo de interesse da sociedade. Críticos do novo modelo educacional apontavam para a demasiada fragmentação do ensino profissionalizante sendo, consequentemente, um elemento causador da alienação do aluno que, posteriormente, afetaria a sua condição de trabalhador. Essa fragmentação da educação profissional, como sinalizam Frigotto, Ciavatta e Ramos, estava na abdicação de uma política educacional que privilegiasse a formação integrada por uma que acolhesse, exclusivamente, as necessidades do mercado.

Contudo, com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, o foco dos jovens vem mudando, deixando as profissões clássicas de lado e passando a buscar àquelas que melhor remunera. Infelizmente essa visão vem afastando os jovens de uma formação cidadã, estruturada por uma consciência mais crítica sobre os problemas que afetam a nossa sociedade, e os aproximando de uma formação mais pragmática, porém, muito restritiva. 
Se de um lado precisamos compreender que o jovem necessita estar preparado para os desafios constantes impostas pela dinâmica do mercado de trabalho, por outro, não se pode negar que uma formação que responda, rapidamente, somente às necessidades das organizações tende a gerar, em poucos anos, uma legião de “profissionais obsoletos” que não aprenderam a refletir e mudar a sua própria realidade e do meio onde vive. 
Reportagem no Portal G1 aponta que:
“Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) feita em 402 indústrias de todo o Brasil revela quais são as profissões do futuro. São nove áreas que terão grande oferta de vagas até 2020. Todas têm relação com engenharia, automação e conhecimentos de informática.

São elas: supervisor de transformação em indústria de transformação de plástico, engenheiro de petróleo, técnico em sistema de informação, trabalhador de superfície de metais, engenheiro de mobilidade, técnico em mecatrônica, biotecnologista, engenheiro ambiental e sanitário e desenhista técnico em eletricidade, eletrônica e eletromecânica.”

Na reportagem podemos identificar profissões de nível superior e médio que, certamente, serão os alvos dos jovens que buscam formação para o emprego como, no passado bem recente, eram o técnico de telecomunicações, de informática e de segurança do trabalho que, atualmente, estão “fora de moda”, porém, com milhares de egressos buscando emprego. E agora? Será que a nossa sociedade está fadada a sempre formar “profissionais obsoletos” ou será que, na realidade, o que nos falta é uma política de formação de profissionais alinhada com uma política de geração de trabalho e renda?
Precisamos construir uma Nação sólida, com perspectivas e projetos de médio e longo prazo tanto de crescimento econômico como de formação de RH, ou seja, independentemente do modismo o que necessitamos são de Políticas de Estado.   
Anderson Boanafina
Rio, 13/03/2012
Link para a reportagem no G1: http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2012/03/pesquisa-mostra-quais-sao-nove-profissoes-do-futuro.html

segunda-feira, 5 de março de 2012

O PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA SOCIEDADE

Em 1819, em um antigo convento dos jesuítas na Bahia, foi criado o Seminário dos Órfãos destinado a acolher os órfãos e abandonados que, aproveitando a proximidade com a estação de Trem da Capitania, ministrava formação em mecânica. Deste em diante, por mais de um século, todos os asilos passaram a oferecer uma formação para os órfãos e desvalidos da sorte. Esse fato, segundo Fonseca (1961), fomentou a visão de que o ensino profissional deveria ser,
“(...) ministrado aos abandonados, aos infelizes, aos desamparados. (...), portanto, teve tanta influência nos nossos destinos, atrasando de um século a boa compreensão que deve presidir ao ensino para a indústria(...)” (p. 104)
Nesse período, mestres vieram de Portugal com a condição de assumir aprendizes para ensinar seus ofícios, como também suprir a carência de operários qualificados para a expansão industrial que se iniciava. Contudo, enquanto uma pequena classe rica recebia um ensino com o objetivo, segundo Romanelli (1998), de “(...) robustecer a memória e capacitar o raciocínio para fazer comentários de textos”. (p.34), a grande massa da sociedade (que era composta por escravos, alforriados, pobres e desvalidos da sorte), recebia um ensino de ofício.
O ensino profissional era considerado essencialmente como uma forma de educação destinada aos pobres, mas sem uma significativa importância do ponto de vista econômico, social ou educacional. Não se tratava de uma política de combate à pobreza ou ao analfabetismo, mas uma ação assistencialista. Sendo a forma que governo e igreja estruturaram para controlar, mesmo temporariamente, a ociosidade dos jovens carentes que, sem oportunidade de acesso e de permanência nas escolas regulares propedêutica, vagavam pelas ruas das cidades.

Essa gênese da escola brasileira, como instituição formadora de elite, estava dissociada dos meios de produção e, como sintetiza Anísio Teixeira (1999), “(...) a escola comum, intelectualista e livresca, se fez uma instituição mais ou menos inútil para a maioria dos seus alunos(...)” (p.312), mas contribuía na construção do imaginário social de uma escola que formava a elite pensante e rica do País, consequentemente, um modelo de sucesso a ser desejado por todos.    

Quase dois séculos depois, a concepção de educação para o trabalho ainda encontra resistência na própria sociedade, especialmente por dois fatores interligados: a) o imaginário coletivo da conquista do “status do nível superior”, seja por ter um diploma ou por considerar que será mais fácil se inserir no mundo produtivo; b) a falta de um planejamento onde seja criada uma convergência entre as demandas regionais por profissionais e a formação desses profissionais em escolas técnicas.

Parte da solução, do primeiro fator, depende de políticas de fomento de oferta de cursos direcionados (segundo fator) para demandas ou perfil produtivo local, pois com a geração de emprego, na região, o jovem terá mais incentivo de realizar um curso que, potencialmente, servirá de acesso ao emprego. Sobre o “status”, somente com o tempo a sociedade entenderá que a valorização pessoal não depende de diploma, mas de valores pessoais e profissionais que, independentemente de um diploma de graduação, são construídas pelo indivíduo.    

Para atender ao segundo fator, os gestores responsáveis pela estruturação de instituições de educação profissional necessitam despir-ser dos seus preconceitos, ideologias pessoais e/ou acepções político-partidário para visualizar, tecnicamente, o que a sociedade está demandando, ou seja, não se pode definir um modelo de escola técnica e seus cursos sem antes conhecer e ouvir a sociedade local, caso contrário, teremos muitas escolas... porém.... vazias!    

Anderson Boanafina
Rio, 05/03/2012